sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Eucalipto pode virar carvão para aço


Fonte: FSP, Mercado, p. B7

Eucalipto pode virar carvão para aço
Insumo para a siderurgia é dominado pelo carvão mineral, que é importado, não renovável e mais caro que o vegetal
Empresa ArcelorMittal desenvolve clone de eucalipto capaz de suportar a pressão em grandes altos-fornos

Agnaldo Brito
Enviado especial a Martinho Campos (MG)

A ArcelorMittal Bioenergia, empresa controlada pela ArcelorMittal (maior companhia siderúrgica mundial), está a um passo de alcançar uma variedade de eucalipto capaz de ser a primeira opção renovável de carvão para uso na fabricação de aço.
Hoje, grande parte da produção de aço é dependente do carvão mineral, insumo não renovável do qual o Brasil é grande importador.
O carvão é insumo essencial na produção do aço. No alto-forno, exerce duas funções: eleva a temperatura do forno a 1.500 graus Celsius e desencadeia uma reação química. O carbono existente no carvão mineral ou vegetal se associa ao oxigênio liberado do minério de ferro em altas temperaturas.
A redução, como é chamado esse processo, purifica o ferro. O uso do carvão vegetal (portanto, renovável) no processo reduz o balanço negativo de emissões do setor siderúrgico, diminui a dependência de importações e representa queda no custo da tonelada do insumo.
A tonelada do carvão vegetal é US$ 90 mais barata que a do coque (carvão mineral).
Mas, para ter esses benefícios, o setor tinha de vencer uma limitação técnica. E é isso que a pesquisa realizada pela ArcelorMittal está perto de conseguir.
A novidade está no desenvolvimento de uma madeira muito dura, resistente a ponto de, após ser transformada em carvão, suportar o peso da mistura colocada num alto-forno. Essa coluna de "ingredientes" despejados no alto-forno exerce uma pressão sobre o carvão.
Somente o carvão mineral suporta essa pressão.
"O carvão vegetal não suporta esse peso, por isso só é usado para a produção do ferro-gusa, produzido em fornos menores. Se for usado nos grandes altos-fornos, o carvão vegetal é esmagado, o que pode vedar o forno. Isso não pode acontecer", afirma Wanderley Cunha, gerente de desenvolvimento técnico da companhia.
A nova variedade pode romper essa limitação.
O clone de eucalipto obtido a partir do cruzamento de três variedades chega perto da resistência obtida com o carvão mineral. Testes feitos com o carvão dessa árvore mostraram resistência a pressões de até 220 quilos por centímetro quadrado.
O mesmo teste feito com o coque mostrou resistência de até 250 quilos por centímetro quadrado. "Se obtivermos uma variedade que alcance essa resistência, teremos então um redutor renovável", diz Cunha. A ArcelorMittal já produz 2,3 milhões de toneladas de carvão vegetal e vai duplicar essa produção.

TRANSGENIA
Selos de manejo florestal vedam o uso de clones transgênicos em áreas certificadas, mas a ArcelorMittal avalia que não pode ignorar a tecnologia de transferência de genes na busca de variedades adequadas para a siderurgia.
Segundo Roosevelt Almado, gerente de pesquisa da ArcelorMittal, a empresa estuda a opção de desenvolver pesquisas para obtenção de clones transgênicos. "Isso poderia, por exemplo, reduzir o tempo para obtenção de um desses clones que oferecem madeira mais dura."
Hoje, todo o desenvolvimento de clones para uso comercial utiliza técnicas clássicas de melhoramento, muito mais lenta para a obtenção de variedades novas.
O jornalista Agnaldo Brito viajou a convite da ArcelorMittal Bioenergia

FSP, 30/09/2010, Mercado, p. B7

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me3009201018.htm

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